O alimento na perspectiva Ayurveda

 

Na perspectiva Ayurveda, o alimento é um dos grandes pilares que determinam nossa saúde. Do que, como, quanto e quando nos alimentamos são fatores determinantes para a construção de nossa saúde ou de doenças.

Quando eu me refiro a nossa alimentação, falo aqui de como nos alimentamos por inteiro e não apenas o nosso corpo físico.

 A gente se alimenta daquilo que a gente come, mas também daquilo que vemos, que ouvimos, que sentimos e que tocamos. Nos alimentamos do ambiente que nos cerca, da energia das pessoas que nos rodeiam, da qualidade das nossas relações. Da nossa própria vibração, gerada pela qualidade dos pensamentos, padrões e crenças que carregamos. Alimentamos nosso corpo, mente, órgãos de sentido e alma.

Diferentemente da Medicina Moderna, o Ayurveda não considera quantidade de proteínas, carboidratos, vitaminas, minerais e etc. para se considerar uma Dieta saudável, mas se atenta a o que acontece com o alimento durante e após seu consumo em termos de capacidade digestiva e de absorção dos tecidos (pachana), de metabolismo, de toxicidade (ama), de como afeta o fogo digestivo (agni), da capacidade de eliminação satisfatória (anulomana – urina, fezes e suor) etc.

A influência do alimento no corpo é, então, explicada através de:

·            Como o alimento influencia os Doshas (matrizes energéticas)

·            Dos 6 sabores – doce, salgado, amargo, azedo, picante e adstringente

·            Dos benefícios nutricionais

·            Da influência que o alimento gera na mente

·            Da influencia que o meio em que estamos inseridos nos gera

·            Da influencia das estações do ano

·            Dos Gunas do alimento (qualidades – se quente ou frio, leve ou pesado, seco ou oleoso, denso ou liquido, macio ou áspero, estável ou móvel, etc.)

·            De Rasa (sabor), Virya (potência), Vipaka (sabor pós digestão), Agni (fogo digestivo), Ama (toxina), Ojas (energia vital/imunidade) etc.

 

Essas são as bases de análise ao se montar um protocolo de alimentação ayurvédica, considerando ainda, a constituição da pessoa (Prakriti), seus desequilíbrios do momento (Vikriti), sua idade, sexo e estação do ano.

Quando passamos a nos alimentar de acordo com nossa constituição única e com a influências do ambiente externo, nos alinhamos com a natureza que habita em nós e fluímos com os ritmos da Natureza, sem resistir às suas forças, mas sim nos beneficiando delas.

Quanto ao alimento dos nossos órgãos de sentido, (olhos, ouvido, nariz, boca, mãos) as escrituras mencionam que o – não uso, uso errado ou excessivo – dos  órgãos de sentido trazem desequilíbrios pra gente como um todo, influenciando o nosso corpo físico, mas também nosso estado emocional e campo mental.

Assim, devemos nos atentar a qualidade e quantidade do que assistimos (desgraça, notícias que geram raiva, frustração, medo, angústia), do que ouvimos e falamos (coisas que enaltecem ou que destroem?), dos estímulos do olfato e do paladar (químicos destroem estes sentidos), das nossas ações e intenções (se positivas ou negativas).

Quando falamos em alimento do corpo, devemos lembrar que estes produzem efeitos na mente e, consequentemente, esta produzirá efeitos nos órgãos de sentido.

 A mente é “quem” controla o corpo e os órgãos de sentido. É “quem” determina se o corpo e os órgãos de sentido serão usados para a degradação ou aprimoramento daquele em que é morada.

A mente é capaz de fortalecer ou enfraquecer a conexão entre o corpo e a Inteligência Universal que sustenta toda vida. Sendo assim, é o aspecto mais importante a ser cuidado, já que é “quem” dá suporte ao corpo, aos órgãos de sentido e à alma.

Estamos todos sobrecarregados de estímulos, de poluição visual, auditiva e olfativa. Vivemos em uma realidade em que não se permite a pratica do silencio, presença e auto-observação com muita facilidade. Somos tão bombardeados de estímulos que muitos de nós desaprendeu a ficar só em sua própria companhia e acaba por sempre buscar ainda mais distrações externas.

Desta forma, práticas de silêncio, presença e contemplação, são essenciais para otimizarmos as funções do corpo. A busca por meditação e autoconhecimento são extremamente importantes e relevantes para se alcançar verdadeira saúde e qualidade de vida pois estando a mente contente e satisfeita, os sentidos também estarão e o corpo muito provavelmente estará em equilíbrio e bom funcionamento, contribuindo para um elevado estado de consciência e harmonia.

Como nos alimentamos contribui para o estado geral do nosso Ser. Ser saudável é também ter alegria, entusiasmo, felicidade. É contentar nossos sentidos com coisas belas, harmônicas e nutritivas e usá-los de forma positiva. É sonhar, realizar, nos alinhar com nossa essência e ter paz no coração.

 

“O alimento sustenta a vida de todos os seres vivos. A pele, clareza dos sentidos, a boa voz, a longevidade, a felicidade, a satisfação, a nutrição, a força e o intelecto são todos condicionados pelo alimento.”

- Charaka Samhita